top of page

O autismo e a Psicanálise

Atualizado: 19 de mai. de 2023


O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta a comunicação social, a interação social, a flexibilidade comportamental e a sensibilidade sensorial. A psicanálise, por sua vez, é uma teoria psicológica que busca compreender o funcionamento psíquico a partir da análise dos processos inconscientes e da história de vida do indivíduo. A relação entre autismo e psicanálise é um tema controverso e complexo, que tem sido objeto de debate por muitos anos. Neste artigo, vamos discutir o tratamento do autismo com a psicanálise, abordando os principais argumentos de defensores e críticos dessa abordagem.


A visão psicanalítica sobre o autismo


A visão psicanalítica sobre o autismo tem suas raízes na teoria do desenvolvimento psicossexual proposta por Sigmund Freud, que defendia que o desenvolvimento humano é influenciado por conflitos e traumas emocionais. De acordo com a teoria psicanalítica, a falta de afeto e a rejeição dos pais podem gerar ansiedade e angústia na criança, que busca formas de se defender dessas emoções. Uma dessas formas seria o desenvolvimento de mecanismos de defesa, como a negação e a regressão.


A partir desse ponto de vista, alguns psicanalistas têm argumentado que o autismo seria uma forma de defesa contra a ansiedade e a angústia geradas pela relação com o outro e pelo conflito edípico. Segundo essa visão, a criança com autismo estaria tentando se proteger de um ambiente hostil e inseguro, evitando a interação social e a comunicação verbal e não verbal. Além disso, a falta de contato visual e a rigidez comportamental seriam outros mecanismos de defesa contra as demandas do ambiente.


Tratamento do autismo com a psicanálise


Com base nessa visão psicanalítica do autismo, alguns profissionais têm proposto o tratamento do autismo por meio da psicanálise. O objetivo seria ajudar a criança a superar suas defesas e a se abrir para a relação com o outro, permitindo a emergência dos afetos reprimidos e a resolução dos conflitos emocionais. Para isso, seria necessário estabelecer uma relação terapêutica de confiança e segurança, na qual a criança se sentisse acolhida e compreendida.


O tratamento psicanalítico do autismo geralmente envolve sessões individuais com a criança e sessões conjuntas com a família, nas quais se discutem questões relativas ao desenvolvimento emocional e às relações familiares. A análise dos sonhos, dos desenhos e das brincadeiras da criança pode ajudar a compreender seus conflitos e seus mecanismos de defesa. Além disso, a psicanálise propõe a interpretação dos sintomas, ou seja, a busca pelo significado inconsciente dos comportamentos e das emoções da criança.


Críticas ao tratamento do autismo com a psicanálise


No entanto, essa visão psicanalítica do autismo tem sido amplamente criticada por outros profissionais, incluindo muitos psiquiatras e psicólogos .



O tratamento do autismo com a psicanálise é criticado por diversos motivos. Primeiramente, a psicanálise tem uma abordagem que se concentra na exploração do inconsciente e da vida emocional do paciente, o que pode ser difícil para uma pessoa com autismo, que pode ter dificuldades em se comunicar e expressar emoções. Além disso, a psicanálise muitas vezes não se baseia em evidências científicas e não tem sido comprovada como uma forma eficaz de tratar o autismo.


A psicanálise também tem sido criticada por alguns por reforçar a ideia de que o autismo é causado por

problemas na relação entre mãe e filho, a chamada "teoria da mãe geladeira", que foi amplamente desacreditada pela comunidade científica. Essa teoria sugere que o autismo é causado pela falta de afeto e atenção materna, o que é prejudicial tanto para as mães quanto para as pessoas com autismo.


Por essas razões, muitos profissionais de saúde e pesquisadores não recomendam a psicanálise como um tratamento eficaz para o autismo, em vez disso, as terapias comportamentais e intervenções baseadas em evidências são amplamente recomendadas.


Acesse e-books






Referências:


American Academy of Pediatrics. (2019). Management of Children with Autism Spectrum Disorder. Pediatrics, 145(Supplement 1), S31–S40.


American Psychological Association. (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed.). https://doi.org/10.1176/appi.books.9780890425596


Feinberg, E. (2019). Autistic children and psychoanalysis: the search for a solution. Journal of Child Psychotherapy, 45(1), 55-68.


National Institute of Mental Health. (2021). Autism Spectrum Disorder. https://www.nimh.nih.gov/health/topics/autism-spectrum-disorders-asd/index.shtml


Rutter, M. (2000). Genetic studies of autism: from the 1970s into the millennium. Journal of Abnormal Child Psychology, 28(3), 213-223.


Sasson, N. J., & Morrison, K. E. (2017). First impressions of adults with autism improve with diagnostic disclosure and increased autism knowledge of peers. Autism, 21(8), 1017-1026.


Stevens, M. C. (2019). Autism as a neurodevelopmental disorder. Topics in Magnetic Resonance Imaging, 28(5), 237-245.


World Health Organization. (2021). Autism Spectrum Disorders. https://www.who.int/news-room/q-a-detail/autism-spectrum-disorders-(asd)

 
 
 

1 Comment

Rated 0 out of 5 stars.
No ratings yet

Add a rating
DENILSON BRAGA
DENILSON BRAGA
May 15, 2023

Sobre o tratamento do autismo através da psicanálise, já houve alguma comprovação de que esta terapia de fato obteve sucesso?

Like
bottom of page