O autismo e a Psicanálise
- Psicanalista V
- 15 de mai. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 19 de mai. de 2023

O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta a comunicação social, a interação social, a flexibilidade comportamental e a sensibilidade sensorial. A psicanálise, por sua vez, é uma teoria psicológica que busca compreender o funcionamento psíquico a partir da análise dos processos inconscientes e da história de vida do indivíduo. A relação entre autismo e psicanálise é um tema controverso e complexo, que tem sido objeto de debate por muitos anos. Neste artigo, vamos discutir o tratamento do autismo com a psicanálise, abordando os principais argumentos de defensores e críticos dessa abordagem.
A visão psicanalítica sobre o autismo
A visão psicanalítica sobre o autismo tem suas raízes na teoria do desenvolvimento psicossexual proposta por Sigmund Freud, que defendia que o desenvolvimento humano é influenciado por conflitos e traumas emocionais. De acordo com a teoria psicanalítica, a falta de afeto e a rejeição dos pais podem gerar ansiedade e angústia na criança, que busca formas de se defender dessas emoções. Uma dessas formas seria o desenvolvimento de mecanismos de defesa, como a negação e a regressão.
A partir desse ponto de vista, alguns psicanalistas têm argumentado que o autismo seria uma forma de defesa contra a ansiedade e a angústia geradas pela relação com o outro e pelo conflito edípico. Segundo essa visão, a criança com autismo estaria tentando se proteger de um ambiente hostil e inseguro, evitando a interação social e a comunicação verbal e não verbal. Além disso, a falta de contato visual e a rigidez comportamental seriam outros mecanismos de defesa contra as demandas do ambiente.
Tratamento do autismo com a psicanálise
Com base nessa visão psicanalítica do autismo, alguns profissionais têm proposto o tratamento do autismo por meio da psicanálise. O objetivo seria ajudar a criança a superar suas defesas e a se abrir para a relação com o outro, permitindo a emergência dos afetos reprimidos e a resolução dos conflitos emocionais. Para isso, seria necessário estabelecer uma relação terapêutica de confiança e segurança, na qual a criança se sentisse acolhida e compreendida.
O tratamento psicanalítico do autismo geralmente envolve sessões individuais com a criança e sessões conjuntas com a família, nas quais se discutem questões relativas ao desenvolvimento emocional e às relações familiares. A análise dos sonhos, dos desenhos e das brincadeiras da criança pode ajudar a compreender seus conflitos e seus mecanismos de defesa. Além disso, a psicanálise propõe a interpretação dos sintomas, ou seja, a busca pelo significado inconsciente dos comportamentos e das emoções da criança.
Críticas ao tratamento do autismo com a psicanálise
No entanto, essa visão psicanalítica do autismo tem sido amplamente criticada por outros profissionais, incluindo muitos psiquiatras e psicólogos .
O tratamento do autismo com a psicanálise é criticado por diversos motivos. Primeiramente, a psicanálise tem uma abordagem que se concentra na exploração do inconsciente e da vida emocional do paciente, o que pode ser difícil para uma pessoa com autismo, que pode ter dificuldades em se comunicar e expressar emoções. Além disso, a psicanálise muitas vezes não se baseia em evidências científicas e não tem sido comprovada como uma forma eficaz de tratar o autismo.
A psicanálise também tem sido criticada por alguns por reforçar a ideia de que o autismo é causado por
problemas na relação entre mãe e filho, a chamada "teoria da mãe geladeira", que foi amplamente desacreditada pela comunidade científica. Essa teoria sugere que o autismo é causado pela falta de afeto e atenção materna, o que é prejudicial tanto para as mães quanto para as pessoas com autismo.
Por essas razões, muitos profissionais de saúde e pesquisadores não recomendam a psicanálise como um tratamento eficaz para o autismo, em vez disso, as terapias comportamentais e intervenções baseadas em evidências são amplamente recomendadas.
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Referências:
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Sobre o tratamento do autismo através da psicanálise, já houve alguma comprovação de que esta terapia de fato obteve sucesso?